Tempestade em copo d’agua, Mulheres artistas em Portugal
De 6 de junho a 20 de julho na galeria Mirat Projects (Rua Blanca de Navarra 8, Madrid) podemos ver a exposição Tempestade em copo d’agua. Esta mostra explora como as mulheres artistas célebres e emergentes de Portugal têm experimentado novos modos de resistência.
Helena Almeida, Maria Helena Vieira Da Silva e Paula Rego são essas mulheres; mulheres que fazem um escândalo. As suas obras evitam dicotomías inevitáveis, verdadeiras ou falsas; ou deixar que um exploda de raiva ou estoire em risos. Dentro da esfera demasiado próxima e táctil da auto-reflexão, constroem fabulações ativas que irrompem nos nossos centros de percepção. A beleza grotesca de Paula Rego muda as hierarquias do poder:
Almeida redesenha a fronteira entre o trabalho e o corpo, para afora e para adentro;
Vieira da Silva dibuja la anécdota, agregando infinitas dimensiones, multiplicando versiones alternativas de una realidad.
Para além da sensibilidade domesticada, o corpo converte-se em terreno de experimentação, como dizia Almeida. <<como a borda de uma falésia sobre o mar>> O seu mundo interior é laberíntico, agrietando o marco aberto numa tormenta de vento. Vieira Da Silva, Rego y Almeida demonstram como converter a queixa feminina num tipo particular de força.
Seguindo o seu exemplo, os artistas mais jovens dirigem as suas miradas para o exterior. O escritor francês Stendhal escreveu: <<um romance é um espelho levado por um caminho alto. Num momento reflete na tua visão os céus azuis, noutro o lodo das poças a teus pés.>> Para Manuela Pimentel, o espelho é prismático, dividindo e recompondo incessantemente as histórias mundanas da cidade que habita, os seus sonhos desertos e as suas utopias incuráveis. Sobre a superfície barnizada dos cartazes de rua projecta-se um reflexo caleidoscópico das múltiplas capas de cor de Portugal, dantes e após a crise.
Maria Trabulo dramatiza a importância de uma pergunta singela: qual é realmente a cor do mar? Questionando a sua tristeza desde a perspectiva do cruze dos refugiados, ela desconcerta ainda mais a nossa percepção do que se converteu num lugar comum nos meios de comunicação.
Tempestade em copo d’agua é uma interessante aproximação às mulheres artistas portuguesas, um cruze entre as novas gerações e as artistas que já vêm deixando a sua marca na história da arte há muitos anos. Recomendamos não perder e conhecer um pouco mais a arte do país vizinho.