Guintche, de Marlene Monteiro em Madrid
Marlene Monteiro Freitas afirma que começou a dançar por influência da cultura de Cabo Verde, o seu país de origem, de onde também provem o título desta obra. “Guintche” é uma palavra polissêmica, não só é o nome de um pássaro, também se utiliza para referir à mulher prostituída ou a um tipo de pessoa que salta de uma coisa a outra sem seguir uma lógica aparente. Assim é a peça que apresenta Marlene Monteiro, uma questão de impurezas.
Em Guintche, Marlene Monteiro entrega o corpo das ancas aos pés, a uma mecânica repetitiva do movimento enquanto no seu rosto vão-se sucedendo uma frenética série de caretas separadas de qualquer emoção psicológica. A artista joga também com deformações faciais e com diferentes maquilhagens na cara que potencian as caretas e as elevam à máxima expresividad. São movimentos que produzem um estado de transe visual.
Esta obra não se pode reduzir nem ao teatro nem à dança, nem sequer à performance. Situa-se no território do que a cada um vê com a imaginación.
Assim a apresenta a própria Marlene Monteiro:
<<Esta peça surge a partir de uma figura que desenhei a partir da memória de um concerto. Chamei-a Guintche e entretanto cresceu, ganhou vida própria, autonomia, rebelou-se. O desenho gera figuras com vida própria, seres cujo destino é defraudar expectativas. Guintche é a vida intensa que se formou e apartou do fundo informe original. Deixou de ser a prótese de um pensamento para se tornar numa dança. >>
Marlene Monteiro foi cofundadora e membro do grupo de dança, Compass. Tem trabalhado com artistas tão importantes como Emmanuelle Huynn, Loïc Touzé, Tânia Carvalho ou Boris Charmatz, entre outros. As suas criações incluem (M) imosa, Uns e Outros, Larvar ou Primeira Impressão, cujas obras têm como denominador comum a abertura e a impureza da sociedade. Hoje em dia é cofundadora de P.OR.K, uma organização de performances artísticas com sede em Lisboa.
Esta peça está vinculada à exposição Elements of Vogue. Um caso de estudo da performance radical (16 de novembro — 6 de maio), no Centro de Arte Duas de Maio (Móstoles, Madrid)
Guintche estará na Sala Negra dos Teatros del Canal de Madrid nos dias 17 e 18 de janeiro às 19:00 horas.