Exposição de Cabrita Reis no CAC de Málaga
De 15 de Dezembro de 2020 até 14 de Março de 2021, o Centro de Arte Contemporáneo de Málaga acolhe “Cabrita. Cabinet d’amateur”, a exposição de pintura mais importante do artista português Pedro Cabrita Reis.
Com curadoria de Helena Juncosa, a exposição consiste numa série de esculturas em bronze e mais de 220 pinturas que abrangem os quarenta anos da carreira de pintor de Cabrita, desde os anos 80 até aos nossos dias, mostrando a enorme diversidade e as múltiplas formas da sua obra pictórica.
A produção de Pedro Cabrita Reis é caracterizada por um discurso filosófico e poético que compreende várias disciplinas: pintura, escultura, fotografia, desenho e instalações compostas por materiais encontrados e objectos manufacturados.
As suas obras abordam questões relacionadas com o espaço, memória, território ou arquitectura com um poder evocativo de associação que estimula a imaginação do espectador que vai para além do visual para alcançar uma dimensão metafórica.
O nome da exposição Cabrita. Cabinet d’amateur, como o do romance homónimo de Georges Perec, refere-se aos armários de curiosidades populares entre os séculos XVI e XIX, que alojaram as obras e objectos recolhidos por coleccionadores ao longo da sua vida, cobrindo as paredes do chão ao tecto, e esta é também a abordagem desta exposição em que as paredes são cobertas com obras de cima para baixo de uma forma aparentemente aleatória ocupando o espaço central do CAC Málaga.
Um aspecto muito característico de Cabrita Reis é o seu interesse em coleccionar: começou a adquirir as primeiras obras de jovens artistas portugueses nos anos 90, até que construiu a colecção que leva o seu nome.
A maioria das peças seleccionadas para esta exposição fazem parte da colecção pessoal do artista, com excepção de algumas pertencentes a colecções privadas.
O trabalho de Cabrita é dominado por uma visão do mundo quotidiano e das coisas humildes, a contemplação da natureza e da paisagem, assim como o toque e a percepção dos objectos, a sensação de vazio e o traço humano.
Na exposição podemos encontrar auto-retratos, abordagens ao trabalho de outros artistas que admira, monocromos, portas, paisagens geométricas feitas com diferentes técnicas e materiais, objectos encontrados, esculturas em bronze, pintura sobre vidro ou aquarelas.
O tema principal que se destaca são as paisagens. Dentro deste género, destacam-se as paisagens geométricas, como se pode ver nos quadros com o mesmo título Paisagens geométricos (2008) ou as paisagens abstractas que se destacam na dúzia de quadros Sem Título (2011), nos 22 quadros Landscapes 2020 (série I) (2019) ou nos mais de 40 quadros Sem Título (2020), para além de outras peças que se referem a este género.
Os monocromos, ocupam uma grande parte da exposição, entre eles um campo em negro destaca-se como The Aluminium Monochromes #9 (2008), na cor verde como The Aluminium Monochromes #19 (2011) ou em vermelho sobre vidro da obra Who’s Afraid of the Red #1 (Leuven) (2011).
O conceito da casa está também presente em algumas das obras de Cabrita, nas quais ele faz repetidas versões deste espaço, reinventando a ideia de habitat, por exemplo as suas obras Paintings 2017,#22 (Casa Queimada) (2017), uma tela em tons de rosa ou Paintings 2017, #27 (Casa Queimada) (2017) em preto.
Também podemos ver vários auto-retratos, tais como Furtivo Fra le Tenebre IX (1994) , The large self-portraits #13 e #32 (2005), Auto retrato como tampa de lata(2016) ou Ridi Pagliaccio.
O apropriacionismo está também presente na obra de Cabrita, de que é exemplo a intervenção do artista numa folha de sala pertencente à exposição do pintor paisagista neoclássico Jacob Philipp Hackert titulada After J. P. Hackert (2009), onde se pode ver um vulcão com uma faixa no fundo em tons de ocre.
O artista utiliza objectos encontrados para criar algumas das suas peças, tais como uma tampa de caixa de charutos Montecristo com a margem esquerda pintada de verde no lado esquerdo em Montecristo Verde (2012); 366 desenhos a tinta da china (2020).
Quanto às formas geométricas, destacam-se algumas obras tais como Nature morte with Iphone 6 plus (2016) composto por um disco de madeira no qual foi colocado um iPhone ou iPod. Última Ceia (2019), uma tela na qual foram incorporados 13 pratos de vidro, simulando os pratos apresentados na mesa da Última Ceia.
Pedro Cabrita Reis (Lisboa, Portugal, 1956)
Concluiu a sua formação académica em pintura na Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa em 1983. Da sua carreira profissional podemos destacar as suas exposições individuais, tais como Work Always in Progress, Centro Galego de Arte Contemporánea (CGAC), Santiago de Compostela, Espanha (2019); La Casa di Roma, Site-specific intervention, Maxxi, Roma, Italia (2015); Los Rojos, Ivorypress, Madrid, España (2011); La línea del Volcán, Museo Tamayo Arte Contemporáneo, México (2009); Pedro Cabrita Reis, MACRO, Museo d’Arte Contemporanea, Roma (2006) ou True Gardens #3 (Dijon), FRAC Bourgogne, Dijon, Francia (2004), entre outras.
Participou em importantes exposições internacionais como a documenta IX em Kassel, em 1992; na 21ª e 24ª edições da Bienal de São Paulo, em 1994 e 1998, respectivamente; e a Aperto na Bienal de Veneza, em 1997. Em 2003 representou Portugal na Bienal de Veneza e na sua 55ª edição, em 2013, apresentou A Remote Whisper. Em 2009 participou também na X Bienal de Lyon, O Espectáculo do Cotidiano.
A sua obra está presente em colecções internacionais como as da Tate Modern em Londres, a Fundaçâo Calouste Gulbenkian em Lisboa ou a Hamburger Kunsthalle, Serralves.