Antonio Tabucchi, o mais português dos italianos

Galáxia Tabucchi é o nome de uma série de actividades em redor da figura do escritor italiano Antonio Tabucchi falecido há 6 anos. O evento central é uma ambiciosa exposição que a Fundação Calouste Gulbenkian montou em torno do amor que o escritor sentia por Portugal, com o título de  “Tabucchi e Portugal”. Esta paixão segundo relata Maria José Lancastre, viúva do escritor, começou mais ou menos em 1965, e nunca mais o abandonou

Além da exposição, haverá coloquios e projeções documentárias para os quais deslocar-se-ão a Lisboa dezenas de  especialistas italianos, e de outros países, no escritor que é considerado como  o estrangeiro que melhor compreendeu a alma portuguesa.

O objectivo da exposição, que poder-se-á visitar desde o dia 8 de abril até ao dia 7 de maio, é mostrar um lado mais pessoal de Tabucchi e da sua vida em Portugal e inclui vários objetos do acervo familiar do escritor, tais como manuscritos, documentos e fotografias privadas, algumas do escritor com grandes artistas lusos, como Paula Rego, autora das ilustrações de uma edição de 2003 do seu livro “Fogo”, além de cartas dos ex-presidentes portugueses Mário Soares e Jorge Sampaio, outras do próprio Tabucchi, figuras de cerâmica que o representam junto a Fernando Pessoa, escritor que o fascinava.

Para além da interessante exposição, também haverá projeções cinematográficas: do documentário “Se de tudo fica um pouco — no rasto de António Tabucchi”, de Diego Perucci, que inclui entrevistas a amigos, colegas e companheiros; e do filme  “Requiem”, do realizador Alain Tanner, que está baseada na obra do autor, será projectada a 9 de abril.

O colóquio Galáxia Tabucchi, juntará duas dezenas de estudiosos de várias nacionalidades. E no dia 10 vai ter lugar uma leitura musicada de textos de Antonio Tabucchi, a cargo de Jorge Silva Melo e Fabrizio Gifuni com música composta por Carlos Martins e Carlos Barretto

De uma das suas obras mais afamadas internacionalmente, “Afirma Pereira” (1994), há abundantes referências nesta mostra, incluídas fotos de Tabucchi com Marcello Mastroianni, quem deu vida ao jornalista Pereira no grande ecrã.

Também podemos encontrar objetos inéditos, como a primeira página do caderno do manuscrito de “Requiem”, no qual inventaria as personagens, ou um poema escrito a mão sobre Lisboa entre outros.

Antonio Tabucchi

Antonio Tabucchi

Foto: Stelios Skopelitis

Nasceu em Pisa o 24 de setembro de 1943. Durante uma viagem a Paris, conheceu o poema Tabacaria de Álvaro de Campos, um dos heterónimos de  Fernando Pessoa e ficou fascinado por este autor português, do qual acabaría convertendo-se no melhor experiente e tradutor italiano.

Depois de sua viagem a Lisboa, ficará apaixonado da cidade pela qual desenvolverá uma verdadeira paixão. A sua tese doctoral versa sobre o surrealismo em Portugal e depois de realizar estudos de aperfeiçoamento na Escola Normal Superior de Pisa, em 1973 recebe o encargo de ensinar Língua e Literatura portuguesa em Bolonha.

Desde 1985 até 1987 é diretor do Instituto Italiano de Cultura de Lisboa. Durante muito tempo viveu metade do ano em Lisboa, com a sua mulher, Maria José Lancastre, lisboeta,  e seus dois filhos. A outra metade do ano vivia na Toscana, dando classes na Universidade de Siena. Em 2004 obteve a cidadania portuguesa.

Antonio Tabucchi faleceu no dia 25 de março de 2012 no Hospital da Cruz Vermelha de Lisboa, por causa de um cancro.

Tabucchi foi um escritor prolífico e alguns dos temas mais recorrentes na sua obra são a busca da identidade e o seu  ocultamiento, a viagem, o passo do tempo e a morte, a memória e a lembrança, o sonho e o mundo onírico, o jogo e os seus equívocos. Também costumava incluir nas suas obras temas antropológicos, como a gastronomia regional dos lugares visitados pelas suas personagens (especialmente a cozinha portuguesa), e a preocupação pelas minorias culturais, sexuais e étnicas.

Junto a María José de Lancastre traduziu para italiano muitas das obras de Pessoa. Escreveu, além do mais, um livro de ensaios e uma comédia teatral sobre ele.

Maria José Lencastre, mulher de Antonio Tabucchi, durante a montagem da exposição sobre o escritor. foto: Filipa Bernardo. DN.

Obteve o prêmio francês “Médicis étranger” pelo romance “Notturno Indiano”, e o prêmio Campiello por “Sostiene Pereira”.

 

“Sostiene Pereira”, banda-desenhada de Pierre-Henry Gommont

 

Algumas das suas obras mais conhecidas são o já mencionado “Notturno Indiano” (Sellerio, 1984), “Piccoli equivoci senza importanza” (Feltrinelli, 1985), “Un baule pieno di gente” (Feltrinelli, 1990), “Gli ultimi tre giorni di Fernando Pessoa” (Sellerio, 1994), “Sostiene Pereira” (Sellerio, 1994), “La testa perduta di Damasceno Monteiro” (Feltrinelli, 1997) e “Si sta facendo sempre più tardi” (Feltrinelli, 2001).

Vários dos seus livros foram adaptados ao cinema, entre os quais destaca “Sostiene Pereira”, onde Marcello Mastroianni destaca numa das suas últimas interpretações um ano dantes de falecer e o filme espanhol “Dama de Porto Pim“. Em 2013, publica-se de maneira póstuma “Per Isabel. Um mandala” pelo selo Feltrinelli Editorial.

 

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